Resenha por: Vitória Bueno
Nota: 10,0 - 10,0
Livro: A casca da caneleira
Autor: vários autores (nomes na resenha)
Número de páginas: 75
Editora: São Luís
A Casca da Caneleira apresenta a história de dois amigos, Américo e Carlos, e o
desenrolar complicado de suas vidas amorosas.
O livro apresenta certos
aspectos interessantíssimos. O aspecto que sem dúvidas se destaca, é o fato de
ele ter sido escrito por onze pessoas. São elas: Gentil Braga, Joaquim Serra,
Raimundo Filgueiras, Marques Rodrigues, Trajano Galvão, Sotero dos Reis,
Henriques Leal, Dias Carneiro, Sabbas da Costa, Caetano C. Cantanhede e
Sousândrade. E ainda mais interessante é o fato de que nem todos os autores
moravam no mesmo estado na época da composição da obra, o que obviamente
dificultava, e muito, a comunicação entre eles, afinal, se trata de um livro
escrito em 1866. O resultado foi uma história com uma unidade narrativa
surreal!
O livro A Casca da Caneleira,
classificado como uma novela, é dividido por doze capítulos curtos e dois
exórdios, que servem como prólogos. O primeiro exórdio foi escrito após uma
reedição do livro por Jomar Moraes em 1980. Ele contextualiza alguns pontos
importantes da história. Já o segundo exórdio e os capítulos da história, foram
divididos dentre os autores que ficaram responsáveis, cada um deles, por um
capítulo, com exceção de Joaquim Serra que ficou responsável por três partes do
livro, o "Exórdio Dispensável", o capítulo II, nomeado “Mais Luz” e o
capítulo XII nomeado "Caleidoscópio final".
Essa novela conta a história de
Américo, um homem mais duro e apático, e Carlos, um sentimental e um romântico
incurável. Os dois são amigos de longa data e no início da história, discutem
sobre suas vidas amorosas. Carlos está apaixonado por Clara, e Américo, para
persuadir o amigo a esquecer da moça, lhe conta sobre a desilusão amorosa que o
fez ficar indiferente ao amor. Julia, uma moça de quem ele gostava muito, o
trocara por um homem rico.
Mas um fato acaba unindo as
quatro personagens: Clara e Julia são amigas, e, em um baile, as duas acabam
dançando com os dois protagonistas. Clara com Américo, e Julia com Carlos. A
intenção era os dois rapazes dissuadirem as moças, falando cada um, sobre o
outro, mas ao colocar o plano em prática, eles acabaram falando de si próprios.
Ali mesmo no baile, rola sutilmente, um romance entre Clara e Américo. E para completar
o caos que se desenrola entre as personagens, Clara está noiva de outro homem!
Essa história tinha tudo para
ser apenas uma típica novela boba para entretenimento, se o contexto em que ela
foi escrita e sua estrutura não fossem tão interessantes. Devido a Questão
Coimbrã, um conflito entre os românticos, que defendiam a literatura
tradicional e romântica e os realistas que defendiam a representação da vida do
homem na literatura de maneira mais realista, alguns membros desse segundo
grupo quiseram romper com o padrão imposto na época, e ao escrever A
Casca da Caneleira, os autores fizeram seu enredo transitar
entre o romantismo e o realismo, com mais características realistas, criticando
com uma deliciosa ironia os românticos da época. E o efeito não poderia ter
sido melhor: a escrita carrega uma fluidez viciante, com exceção do
"Exórdio Dispensável" e "O Caleidoscópio
final", que carregam uma escrita mais complexa e com teor mais técnico.
Além disso, é interessantíssimo tentar entender como essa composição foi
escrita. Como ela foi possível?
Quanto aos escritores dessa
obra, houve muitas discussões, durante muitas décadas, a respeito de quem
escreveu o quê e se houve mesmo onze autores. A discussão rodeava
principalmente sobre o fato de que Joaquim Serra morava em outro estado (sul do
Brasil) na época da sua composição, ou seja, se já havia dificuldades na
comunicação dos autores que moravam no mesmo estado, imagina só como demorava
uma comunicação interestadual? Além disso, Trajano Galvão morreu em 1864, dois
anos antes da publicação da novela, o que gera dúvidas sobre sua participação
na escrita da obra.
Mas a verdade é que esses
episódios só transformaram essa novela em uma obra ainda mais interessante.
Bom, pra finalizar quero dizer
que li essa novela há alguns meses para a faculdade e que infelizmente, pode
ser bem difícil de achá-la, já que é uma edição esgotada (eu mesma li em um
xerox), mas caso você não tenha problemas com PDF, encontrei um na internet
(realmente quero saber quem liberou essa belezinha kkk) [Aqui!!!]. Recomendo
fortemente. Não pela história em si, mas como já disse, pelo contexto e também
pelo modo com que ela foi escrita. Sério, é muito interessante.
E é isso! Leiam A casca da caneleira!!!
Oi, Vitória. A nova edição saiu, da qual sou organizador. Gostaria que você a divulgasse em seu blog. É possível? Como faço para te dar um exemplar? Meu contato: 34 999512730 ou carlosaug.melo@gmail.com
ResponderExcluirAbraços