Páginas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A Casca da Caneleira: Steeple-chase - por uma boa dúzia de "esperanças"

Resenha por: Vitória Bueno
Nota: 10,0 - 10,0
Livro: A casca da caneleira
Autor: vários autores (nomes na resenha)
Número de páginas: 75
Editora: São Luís



A Casca da Caneleira apresenta a história de dois amigos, Américo e Carlos, e o desenrolar complicado de suas vidas amorosas.

O livro apresenta certos aspectos interessantíssimos. O aspecto que sem dúvidas se destaca, é o fato de ele ter sido escrito por onze pessoas. São elas: Gentil Braga, Joaquim Serra, Raimundo Filgueiras, Marques Rodrigues, Trajano Galvão, Sotero dos Reis, Henriques Leal, Dias Carneiro, Sabbas da Costa, Caetano C. Cantanhede e Sousândrade. E ainda mais interessante é o fato de que nem todos os autores moravam no mesmo estado na época da composição da obra, o que obviamente dificultava, e muito, a comunicação entre eles, afinal, se trata de um livro escrito em 1866. O resultado foi uma história com uma unidade narrativa surreal!

O livro A Casca da Caneleira, classificado como uma novela, é dividido por doze capítulos curtos e dois exórdios, que servem como prólogos. O primeiro exórdio foi escrito após uma reedição do livro por Jomar Moraes em 1980. Ele contextualiza alguns pontos importantes da história. Já o segundo exórdio e os capítulos da história, foram divididos dentre os autores que ficaram responsáveis, cada um deles, por um capítulo, com exceção de Joaquim Serra que ficou responsável por três partes do livro, o "Exórdio Dispensável", o capítulo II, nomeado “Mais Luz” e o capítulo XII nomeado "Caleidoscópio final".

Essa novela conta a história de Américo, um homem mais duro e apático, e Carlos, um sentimental e um romântico incurável. Os dois são amigos de longa data e no início da história, discutem sobre suas vidas amorosas. Carlos está apaixonado por Clara, e Américo, para persuadir o amigo a esquecer da moça, lhe conta sobre a desilusão amorosa que o fez ficar indiferente ao amor. Julia, uma moça de quem ele gostava muito, o trocara por um homem rico.

Mas um fato acaba unindo as quatro personagens: Clara e Julia são amigas, e, em um baile, as duas acabam dançando com os dois protagonistas. Clara com Américo, e Julia com Carlos. A intenção era os dois rapazes dissuadirem as moças, falando cada um, sobre o outro, mas ao colocar o plano em prática, eles acabaram falando de si próprios. Ali mesmo no baile, rola sutilmente, um romance entre Clara e Américo. E para completar o caos que se desenrola entre as personagens, Clara está noiva de outro homem!

Essa história tinha tudo para ser apenas uma típica novela boba para entretenimento, se o contexto em que ela foi escrita e sua estrutura não fossem tão interessantes. Devido a Questão Coimbrã, um conflito entre os românticos, que defendiam a literatura tradicional e romântica e os realistas que defendiam a representação da vida do homem na literatura de maneira mais realista, alguns membros desse segundo grupo quiseram romper com o padrão imposto na época, e ao escrever A Casca da Caneleira, os autores fizeram seu enredo transitar entre o romantismo e o realismo, com mais características realistas, criticando com uma deliciosa ironia os românticos da época. E o efeito não poderia ter sido melhor: a escrita carrega uma fluidez viciante, com exceção do "Exórdio Dispensável" e "O Caleidoscópio final", que carregam uma escrita mais complexa e com teor mais técnico. Além disso, é interessantíssimo tentar entender como essa composição foi escrita. Como ela foi possível?

Quanto aos escritores dessa obra, houve muitas discussões, durante muitas décadas, a respeito de quem escreveu o quê e se houve mesmo onze autores. A discussão rodeava principalmente sobre o fato de que Joaquim Serra morava em outro estado (sul do Brasil) na época da sua composição, ou seja, se já havia dificuldades na comunicação dos autores que moravam no mesmo estado, imagina só como demorava uma comunicação interestadual? Além disso, Trajano Galvão morreu em 1864, dois anos antes da publicação da novela, o que gera dúvidas sobre sua participação na escrita da obra. 

Mas a verdade é que esses episódios só transformaram essa novela em uma obra ainda mais interessante.

Bom, pra finalizar quero dizer que li essa novela há alguns meses para a faculdade e que infelizmente, pode ser bem difícil de achá-la, já que é uma edição esgotada (eu mesma li em um xerox), mas caso você não tenha problemas com PDF, encontrei um na internet (realmente quero saber quem liberou essa belezinha kkk) [Aqui!!!]. Recomendo fortemente. Não pela história em si, mas como já disse, pelo contexto e também pelo modo com que ela foi escrita. Sério, é muito interessante.
E é isso! Leiam A casca da caneleira!!! 

Um comentário:

  1. Oi, Vitória. A nova edição saiu, da qual sou organizador. Gostaria que você a divulgasse em seu blog. É possível? Como faço para te dar um exemplar? Meu contato: 34 999512730 ou carlosaug.melo@gmail.com
    Abraços

    ResponderExcluir